quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

FREIXO DE NUMÃO E A UNIVERSIDADE DE COIMBRA

“[…] “Com a transferência da Universidade para Coimbra em 1537 e a consequente remodelação de todos os serviços docentes, sobretudo pelos avultadíssimos salários dos professores estrangeiros que era necessário pagar, o problema da Fazenda universitária ganhou nova acuidade, pois as rendas que o Estudo possuirá, em Lisboa, eram agora manifestamente insuficientes. D. João III resolveu a dificuldade promovendo a anexação das rendas de mais igrejas do padroado real (por Bula de 14 de Março de 1537, as igrejas de S. Miguel de Antas, S. João de Moimenta, Santa Maria de Penela, S. Bartolomeu de Paredes, Santa Maria de Sendim e S. Pedro de Freixo de Numão)”.

Na sequência dessa Bula, o Cardeal-Infante D. Afonso envia em 20 de Janeiro de 1540[1], ao Reitor e demais corpo directivo da Universidade, uma carta autorizando a união das igrejas acima indicadas, das quais era “provido por autoridade apostólica”. Com este acto, procurava o Cardeal-Infante “que as rendas delas se convertessem em ajuda do pagamento dos salários dos lentes e oficiais da dita Universidade”. Conclui a carta pedindo ao Reitor que tomasse posse imediata das citadas igrejas.

Do que rendia a igreja de Freixo de Numão à Universidade de Coimbra temos alguns elementos:

1. Através da consulta do Livro de Receitas e Despesas feito, em 1544, por Manuel Leitão, ficamos a saber que nesse ano foram arrendadas, pelo período de dois anos, a António Luís e Jorge Roiz, moradores em Trancoso, as duas igrejas anexas à de S. Pedro de Freixo de Numão e a de S. Miguel das Antas, pelo preço de 140.000 réis ambas.

2. Na Relação das Rendas do ano de 1556, a igreja de Freixo rendia já 219.000 réis, sendo uma das igrejas da Beira que com maior rendimento contribuía para os cofres da Universidade.

3. Em 1570, o Livro da Fazenda e Rendas da Universidade de Coimbra fornece as seguintes informações: A igreja de S. Pedro de Freixo de Numão tem duas anexas, a saber: Sâo Pedro das Mós e São Lourenço de Sebadelhe. Esta renda vale cada ano trezentos e dez mil réis. E além deste preço há o rendeiro de depositar cada ano para se cumprirem as visitações quatro mil réis.

Para além destes valores, os documentos da Universidade publicados fornecem ainda outras notícias. Relativamente a Freixo de Numão, Pinto Ferreira assinalou aqui, ainda em pleno século XVI, a presença de um artista a quem a Universidade encomendou a pintura dos seus retábulos.

Em Janeiro de 1609, Freixo de Numão foi visitada pelo agente André de Vilar. Neste mesmo ano parece ter surgido um certo contencioso entre a Universidade e o cura de Freixo, tendo a Universidade deliberado que se escrevesse a um tal Manuel Pinheiro pedindo o embargo do acrescentamento de 2.000 réis do cura[2].

Para lá destes documentos depositados no Arquivo da universidade conimbricense, outros testemunhos existem e têm sido referenciados por alguns historiadores da nossa região. Em 1954, Pinto Ferreira identificou a inscrição existente na frontaria da igreja matriz, que atesta a pertença desta à Universidade. Posteriormente foram encontrados marcos delimitadores de propriedade com a mesma inscrição - nas Mós do Douro por Joaquim Augusto Castelinho, e nos limites de Freixo por Sá Coixão.

A história das relações existentes entre a Universidade e Freixo de Numão está aparentemente longe de ter sido feita. No entanto, trata-se de uma área que se adivinha bastante produtiva, já que através dela há grandes probabilidades de se virem a encontrar documentos capazes de nos elucidar, por exemplo, sobre as mutações sofridas pela igreja matriz desde Quinhentos até ao Terramoto de 1755[3].”

In: S. Pedro de Freixo – Raízes e Identidade

[1] LIVRO DA RECEPTA E DESPESA DAS RENDAS DA UNIVERSIDADE PER MANUEL LEITAM QUE COMEÇOU PER PASCOA DE 544 ANNOS SCRJUAM MANUEL TOMAS, publicado por Mário Brandão, Coimbra, 1938, pp. 47-48.
[2] M. Lopes de Almeida, ARTES E OFÍCIOS EM DOCUMENTOS DA UNIVERSIDADE, Coimbra, 1971, vol. II, pp. 98-101.
[3] As relações entre a Universidade e Freixo de Numão têm vindo a ser, sistematicamente, objecto de estudo por parte de João Soalheiro, a quem se deve já um número apreciável de trabalhos, sobretudo, no âmbito da história da arte sacra.

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