
Na sequência dessa Bula, o Cardeal-Infante D. Afonso envia em 20 de Janeiro de 1540[1], ao Reitor e demais corpo directivo da Universidade, uma carta autorizando a união das igrejas acima indicadas, das quais era “provido por autoridade apostólica”. Com este acto, procurava o Cardeal-Infante “que as rendas delas se convertessem em ajuda do pagamento dos salários dos lentes e oficiais da dita Universidade”. Conclui a carta pedindo ao Reitor que tomasse posse imediata das citadas igrejas.
Do que rendia a igreja de Freixo de Numão à Universidade de Coimbra temos alguns elementos:
1. Através da consulta do Livro de Receitas e Despesas feito, em 1544, por Manuel Leitão, ficamos a saber que nesse ano foram arrendadas, pelo período de dois anos, a António Luís e Jorge Roiz, moradores em Trancoso, as duas igrejas anexas à de S. Pedro de Freixo de Numão e a de S. Miguel das Antas, pelo preço de 140.000 réis ambas.
2. Na Relação das Rendas do ano de 1556, a igreja de Freixo rendia já 219.000 réis, sendo uma das igrejas da Beira que com maior rendimento contribuía para os cofres da Universidade.
3. Em 1570, o Livro da Fazenda e Rendas da Universidade de Coimbra fornece as seguintes informações: A igreja de S. Pedro de Freixo de Numão tem duas anexas, a saber: Sâo Pedro das Mós e São Lourenço de Sebadelhe. Esta renda vale cada ano trezentos e dez mil réis. E além deste preço há o rendeiro de depositar cada ano para se cumprirem as visitações quatro mil réis.
Para além destes valores, os documentos da Universidade publicados fornecem ainda outras notícias. Relativamente a Freixo de Numão, Pinto Ferreira assinalou aqui, ainda em pleno século XVI, a presença de um artista a quem a Universidade encomendou a pintura dos seus retábulos.
Em Janeiro de 1609, Freixo de Numão foi visitada pelo agente André de Vilar. Neste mesmo ano parece ter surgido um certo contencioso entre a Universidade e o cura de Freixo, tendo a Universidade deliberado que se escrevesse a um tal Manuel Pinheiro pedindo o embargo do acrescentamento de 2.000 réis do cura[2].
Para lá destes documentos depositados no Arquivo da universidade conimbricense, outros testemunhos existem e têm sido referenciados por alguns historiadores da nossa região. Em 1954, Pinto Ferreira identificou a inscrição existente na frontaria da igreja matriz, que atesta a pertença desta à Universidade. Posteriormente foram encontrados marcos delimitadores de propriedade com a mesma inscrição - nas Mós do Douro por Joaquim Augusto Castelinho, e nos limites de Freixo por Sá Coixão.
A história das relações existentes entre a Universidade e Freixo de Numão está aparentemente longe de ter sido feita. No entanto, trata-se de uma área que se adivinha bastante produtiva, já que através dela há grandes probabilidades de se virem a encontrar documentos capazes de nos elucidar, por exemplo, sobre as mutações sofridas pela igreja matriz desde Quinhentos até ao Terramoto de 1755[3].”
In: S. Pedro de Freixo – Raízes e Identidade
[1] LIVRO DA RECEPTA E DESPESA DAS RENDAS DA UNIVERSIDADE PER MANUEL LEITAM QUE COMEÇOU PER PASCOA DE 544 ANNOS SCRJUAM MANUEL TOMAS, publicado por Mário Brandão, Coimbra, 1938, pp. 47-48.
[2] M. Lopes de Almeida, ARTES E OFÍCIOS EM DOCUMENTOS DA UNIVERSIDADE, Coimbra, 1971, vol. II, pp. 98-101.
[3] As relações entre a Universidade e Freixo de Numão têm vindo a ser, sistematicamente, objecto de estudo por parte de João Soalheiro, a quem se deve já um número apreciável de trabalhos, sobretudo, no âmbito da história da arte sacra.
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